12 Pesquisadores em Arte. Anpap 1996



Alice Stefania Curi

Maria Beatriz de Medeiros


Na exposição coletiva 12 pesquisadores em arte, ocorrida durante o Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP), em 12 de outubro de 1996, por ocasião do 10o aniversário da ANPAP, no Paço das Artes, São Paulo, o Grupo Corpos Informáticos realizou uma instalação e uma participação performática denominada Secreções e contaminações.


Na abertura da exposição, composta por 12 artistas, o Grupo montou uma videoinstalação: eram seis televisores enfileirados, no chão, com meio metro de distância entre um e outro, todos virados na mesma direção; três deles transmitiam as mesmas imagens, porém, em tempos diferentes; num outro passava imagens gravadas em nossa videoperformance realizada na FUNARTE, São Paulo, e o último transmitia ao vivo o que era captado pela câmera (Milton Marques) durante o vernissage.


A proposta era ‘contaminar’ os trabalhos dos artistas presentes. Os performers (Bia Medeiros, Carla Rocha, Katiana Donna, Maria Luiza Fragoso, Marcos Costa Brava) calçaram luvas anticépticas para evitar a ‘contaminação’ que seria realizada pelas ‘secreções’ da cor-luz e, em gestos naturais, deslocaram as TVs da fila para a frente, para ‘dentro’ dos trabalhos de outros expositores: Regina Silveira, Ricardo Basbaum, Grupo SciArts.


É interessante refletir sobre o processo anúncio/expectativa/ frustração. Os presentes já sabiam que haveria uma performance durante o vernissage, estavam esperando por ela. Quando a locomoção dos aparelhos começou, os presentes ainda se perguntavam a que horas seria a performance ao que os performers passaram a responder:  Você está no meio dela, e o interesse redobrava. A divulgação prévia de que haverá performance gera expectativa. Quando se diz ‘performance’, muitos temem. A performance branda gera uma certa frustração e ansiedade, gera quebra de impacto, ganhando, assim, uma nova nuance: a frustração destrói o conceito da performance/espetáculo, mas, sobretudo, espetáculo/espetacular.


O conceito já normativo é de que a performance sempre surpreenderá por meio de ações chocantes e ofensivas. Nossa performance transgrediu esse conceito, e, por isso mesmo, não deixou de ser essencialmente, conceitualmente, performance. Não deixamos de surpreender o público com nossa ação discreta, tranqüila. Pelo contrário, o elemento surpresa ganhou como aliado o elemento inesperado.


Um outro aspecto que merece avaliação foi a interferência de nosso trabalho nas obras dos outros. A proposta era chegarmos, nessa coletiva, à ‘promiscuidade’ que desejamos em relação à questão da autoria, e que vivenciamos enquanto grupo. Dentro do Grupo Corpos Informáticos, experimentamos essa ‘promiscuidade’ na pesquisa com diversas linguagens e na atuação descentralizada dos membros do Grupo, ou seja, há a proposta de trânsito livre em todas as linguagens e funções e de releituras permanentes.


A idéia nessa exposição era interagir com a obra alheia, até formarmos uma obra única, sem fronteiras. Acontece que lidamos com outra questão: o mito do artista enquanto criador absoluto, ser inspirado que traz uma aura especial, diferenciada. Alguns artistas do evento resistiram, ou ficaram incomodados com a nossa mácula em sua obra. Os mais seguros jogaram o jogo.


Importante ainda salientar que o Grupo SciArts, em sua instalação, também tinha uma proposta de integração de todos os trabalhos através da instalação de câmeras nos trabalhos dos outros artistas e a transmissão dessas imagens para os seus monitores. A exposição, assim, tornou-se uma quase obra única.