Laboratório “48 horas”


As atividades denominadas “48 horas” são uma prática desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos, desde 1992, e fazem parte de sua metodologia de trabalho. Nas diferentes “48 horas” realizadas, a proposta é fazer um trabalho intensivo envolvendo todos os integrantes do grupo e apresentando duas ou três propostas. Esses laboratórios são realizados em finais de semana, isto é, aos sábados   manhã, tarde e noite   e aos domingos –pela manhã e à tarde. Algumas vezes, foram convidados professores-artistas de externos ao grupo para discussões de temas específicos. Não há público. Os almoços são sempre em grupo e realizados nos locais de trabalho. É sempre reservado um tempo para a avaliação das “48 horas”. Ações, discussões, avaliação são gravadas seja para gerar vídeos, seja para gerar textos, seja para registro.


Trata-se de um laboratório, essencialmente, de geração de idéias, mas ele também tem a intenção de unir o grupo, sintonizar as singularidades gerando composições. De início, sempre um trabalho de corpo, um relaxamento; como fio condutor, uma proposta performática individual que em seguida é aberta à participação dos outros participantes; tudo acompanhado por gravações e visualizações dessas gravações; a exaustão é elemento constituinte, pois deixa revelar o não-dito, o desconhecido. Mise-en-scène dos instintos. No segundo dia, propostas mais conclusivas a partir das avaliações e propostas para próximos passos da pesquisa. Quando exaustos passamos à leitura de textos previamente selecionados.


Vejamos o que dizem alguns membros do grupo:


Alice Stefânia Curi:


Em 1996 foram realizados dois “48 horas”. O primeiro, dias 13 e 14 de abril, com um trabalho cênico denominado Persona Ritual, que durante todo o ano centrou o trabalho de corpo do Grupo, teve por objetivos integrar os bolsistas novos, realizar propostas individuais de gravações para vídeos e foi proposto por Monica Mello, Alice Stefânia e Vanessa Gelli Rocha.

Embora tenha sido positivo para a integração do grupo e tenha norteado as próximas reuniões de corpo, esse trabalho não se desenvolveu para o espetáculo por ser por demais intimista. Desse fato, houve a necessidade de se realizar um novo “48 horas”, em 11 e 12 de setembro, cuja proposta foi a criação de performances: no sábado, cada bolsista concebeu e apresentou uma performance individual; no domingo, estas foram aprofundadas em trabalhos em grupo.

O primeiro “48 horas” de 1996 gerou o vídeo Bremeu, realizado por Pedro Augusto Nascimento, selecionado para o Salão Victor Meirelles, Florianópolis, e o vídeo Videoforia criado por Vanessa Gelli Rocha.

O segundo “48 horas”, de 1996, gerou o vídeo Bocaliteradas, que teve proposta performática de Pedro Augusto Nascimento, performance do mesmo e de Maria Luíza Fragoso, câmera de Bia Medeiros. Esse vídeo recebeu o primeiro Prêmio no 28o Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba. Entre outras atividades, foram efetuadas as videoperformances: Copos d’água, proposta performática de Milton Marques, e Espelho, projeto performático de Katiana Caliman Donna. Ambas foram incorporadas ao espetáculo Secreções e Contaminações, de novembro de 1996, no Espaço Cultural da 508 Sul, Brasília.


Maria Luiza Fragoso:


48 horas” é uma proposta de criação e concentração de idéias, que vem sendo utilizada pelo Grupo nos últimos anos. A necessidade de uma reunião desse tipo surge sempre que o Grupo se encontra em um momento transitório, ou seja, entre a finalização de um processo e a necessidade de concepção e organização de novos caminhos. A forma concentrada de produção coletiva proporciona uma série de sugestões que partem do Grupo como um todo, mantendo coerência e coesão do mesmo.

48 horas” oferece, ainda, a possibilidade de um encontro de idéias individuais, que em um espaço curto de tempo se conectam, se articulam, em um processo criativo rápido que gera um número grande de possibilidades que vêm a ser exploradas pelo Grupo durante os meses seguintes (1997).


Vanessa Gelli Rocha:

A exaustão gerada pelos diferentes “48 horas” nos empurra para processos inconscientes (1997).